Crónica de hoje da Leonor Pinhão
Com ou sem punhos de renda
De acordo com as aparências, o presidente do Concelho de Arbitragem não ficou minimamente impressionado com as palavras proferidas pelo presidente do Sporting passadas vinte e quatro horas sobre o jogo de Setúbal, na noite de domingo.
Evitando ajuizadamente os calores do momento, Bruno de Carvalho deu a si próprio um dia de reflexão e de serenidade para se apresentar ao país em “prime time”, e com a cobertura televisiva devida a um presidente de um clube grande, apelando à mobilização dos sportinguistas de todos os quadrantes contra a quadrilha da arbitragem nacional que impede o Sporting, feitas as contas, de ser o líder do corrente campeonato.
Vítor Pereira, o presidente dos árbitros, respondeu-lhe no dia seguinte, na terça-feira, com a nomeação do paciente Olegário Benquerença para o clássico. Julgo ser prática rara a indigitação de árbitros à terça-feira. Mas foi precisamente isso que aconteceu. Digamos que foi uma espécie de experiência corrigida imediatamente no dia seguinte.
Ficou decidido ontem, quarta-feira, que se Pedro Proença não se lesionar até domingo será ele o árbitro do Sporting-FC Porto.
Tinha ficado decidido na terça-feira que seria Olegário Benquerença mas Olegário meteu atestado médico e ficará em casa a recuperar.
Com 8 jornadas e 24 pontos por disputar, institui-se levianamente que o Sporting-FC Porto de domingo é o jogo decisivo para a atribuição do segundo lugar, o tal lugar que dá acesso directo à Liga dos Campeões e a um prémio assegurado de 8 milhões de euros. E é este o jogo que mereceria a nomeação de Olegário Benquerença vindo de uma prestação lamentável no jogo que afastou o Braga da Taça da Liga, isto se o mesmo Benquerença não tivesse metido baixa.
Quanto ao primeiro lugar, conluiaram-se de uma maneira geral os nossos adversários para o considerar entregue ao Benfica à laia de agouro, a ver se não pega.
Dizem em coro que o campeão está encontrado mas, lá no fundo, acreditam que nas tais 8 jornadas com os tais 24 pontos em disputa, os 7 e os 9 pontos que o Benfica tem de avanço sobre, respectivamente, o Sporting e o FC Porto podem ver-se reduzido a zero num piscar de olhos. Vá lá, em dois piscares de olhos.
E é por esta mesma razão que o presidente do Sporting não demorou a reagir às nomeações de terça-feira, não reagindo à nomeação de Olegário Benquerença para o jogo que lhe diz directamente respeito – Bruno de Carvalho já saberia que Olegário estava doente? - mas reagindo indirectamente à nomeação do árbitro para o Nacional-Benfica da próxima segunda-feira, apodando-o de “fanático” benfiquista sem lhe citar o nome.
Cá está a subtil evidência de que, no próximo fim-de-semana, o jogo grande, o jogo que importa, o jogo em que vale a pena tudo apostar é o Nacional-Benfica e não o Sporting-FC Porto que, em função do resultado a verificar-se, elegerá a equipa melhor cotada para a perseguição ao primeiro lugar.
Os primeiros três lugares da prova estão longe de estar decididos e quem acreditar nisso ou é muito ingénuo ou é muito religioso.
O designado árbitro “fanático” do Benfica que vai dirigir o jogo de segunda-feira dos líderes da prova no campo do Nacional é o tal árbitro, talhante de profissão, a quem a sempre renovada campanha em prol da verdade desportiva já vandalizou dois talhos com grande aparato cénico.
Na sua alocução na noite de segunda-feira, o presidente do Sporting não admitiu comparações entre a vandalização de talhos de árbitros e a vandalização do carro de Augusto Inácio e até as ameaças de morte que ele próprio tem recebido, tal como as anunciou publicamente.
São coisas diferentes, na sua opinião. Na verdade, não são. São exactamente a mesma coisa e que muito se lamenta.
É difícil não concordar com Bruno de Carvalho quando diz que o futebol português precisa de muitas coisas novas.
Mas, certamente, do que o futebol português não necessita é de um “banditómetro” para medir, julgar e decidir quais são vandalizações-criminosas e quais são as vandalizações-legitimadas pela pertinência da ira popular acicatada por terceiros.
Não venham, portanto, aspirar por fins de regime e por amanhãs que cantam quando os inícios de regime, bem vistas as coisas, com punhos de renda ou sem punhos de renda, lhe são em tudo semelhantes.
O Benfica joga esta noite em Londres para a Liga Europa. É o regresso a White Hart Lane cinquenta e dois anos depois de uma histórica meia-final da Taça dos Campeões disputada com o Tottenham que terminou com a qualificação muito sofrida do Benfica para a final que haveria de conquistar ao Real Madrid.
Não vem isto a propósito da recente inauguração de uma estátua de Bella Guttman no Estádio da Luz nem, muito menos, da lenda da alegada maldição que o treinador húngaro terá lançado sobre o Benfica de onde saiu, rezam as crónicas, francamente aborrecido com qualquer coisa.
Guttman merece a estátua. Quanto à maldição se, de facto, ocorreu está neste momento desativada. Com punhos de renda ou sem punhos de renda, Eusébio e Coluna terão tratado do assunto assim que se reencontraram com o velho mestre.
Também não vem isto a propósito, embora possa ter parecido, de considerar a presente edição da Liga Europa um objectivo primordial do Benfica nesta temporada de 2013/2014.
Admitindo, no entanto, que haja muito benfiquista para quem ganhar uma competição europeia, seja ela qual for, é uma meta, um sonho, uma urgência.
E, se bem se recordam, no ano passado o Benfica esteve bem perto de o conseguir.
Vem isto a propósito, agora sim, do que verdadeiramente preocupa nesta viagem do Benfica a Londres, no tal regresso a um palco onde já foi extraordinariamente feliz. Trata-se de Lazar Markovic.
É de temer que se jogar hoje com o Tottenham e se, eventualmente, assinar uma exibição, ou mesmo só meia-exibição, do género das que nos tem vindo a habituar, fique logo em Inglaterra.
Diz-se que o Chelsea e o Liverpool e mais uns tantos andam de olho no jovem sérvio. E sendo verdade que o nosso campeonato, embora extraordinariamente animado, não tem grande visibilidade para lá de Badajoz, é certo e sabido que um brilharete, ou mesmo meio-brilharete, de Markovic esta noite em Londres, venha a significar um adeus muito rápido à Luz.
Lazar Markovic, portanto, é a minha única preocupação com o jogo de White Hart Lane. Obviamente que gostaria de seguir em frente na Liga Europa. E se não seguir frente gostaria de sair da competição fazendo boa figura.
Mas mais importante do que a boa figura é que não se lesione ninguém nestes dois jogos com o Tottenham. E neste ponto, confesso também reside uma preocupaçãozinha.
Do meu ponto de vista, nesta época, e falando com franqueza, o primeiro, o segundo, o terceiro e o quarto objectivo do Benfica é o campeonato nacional. Quer isto dizer que a Liga Europa, a Taça de Portugal e a Taça da Liga, por muita graça que tenham, não têm, todas juntas, metade da graça da prova maior de trazer por casa na edição 2013/2014.
Por isso me ralo menos. É a vida santa dos adeptos dos clubes que só têm uma coisa com que se preocupar.
Na próxima jornada da dita competição tem o Benfica de ir jogar à Madeira com o Nacional, uma equipa muito sólida que dificilmente perde um jogo na sua casa. É bom recordar aos adeptos mais esfusiantes – se os houver – que no ano passado o Benfica empatou com o Nacional na Madeira.
Não será preciso lembrar o mesmo aos nossos jogadores porque, de certeza, que se lembram.
O madeirense Cristiano Ronaldo marcou por duas vezes aos Camarões e ultrapassou o açoriano Pedro Pauleta chegando, finalmente, ao topo da tabela dos melhores goleadores de todos os tempos da selecção nacional.
Cristiano Ronaldo é único. E agora já se lhe pode chamar, com toda a propriedade, o melhor do mundo, o melhor de Portugal e o melhor das ilhas adjacentes.
Não se vislumbra no horizonte quem o venha destronar em termos de selecção. E noutros termos também não se vê.
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