Crónica de hoje da Leonor Pinhão
Tenho saudades de uma transição rápida
Pedro Proença é o novo presidente da Liga de Clubes.
E depois, qual é o problema?
Nenhum.
O antigo árbitro terá certamente uma agenda recheada de ideias modernas para o futebol português e, que se saiba, não se propôs no seu programa eleitoral a decretar a impossibilidade prática e teórica de o Benfica vir a conquistar o campeonato pelo terceiro ano consecutivo.
E, como se sabe, esta é a eventualidade que mais enerva o Sporting e o Porto, subscritores maiorais da candidatura de Pedro Proença.
É, no entanto, natural que Porto e Sporting tenham uma grande fezada em Proença que, nos últimos anos, foi quem lhes garantiu as maiores alegrias. Por via directa no caso do Porto e por via indiscreta no caso do #NotSportingLisbon.
Mas não passa disso. É apenas fé, não daquela fé que move montanhas mas da que se compraz em si mesma amesquinhando até o perfil de idoneidade do novo presidente da Liga de Clubes.
A verdade é que a notícia do regresso ao activo de Pedro Proença causou alarme nos nossos areópagos.
- Valha-nos Deus que o campeão voltou! – lamentaram-se muitos benfiquistas.
Enquanto isto, uma onda de euforia inundava as casas dos rivais com a certeza abusiva de que Pedro Proença nunca lhes falhará.
- O campeão voltou! O campeão voltou! – exultaram, cheios de certezas, portistas e sportinguistas.
Penso que estão todos enganados nas suas suposições.
O campeão ainda não voltou. Continua mais uns dias pelas Américas. O campeão voltará a 9 de Agosto para a decisão da Supertaça. Só a partir daí é que se pode começar a falar a sério. Até lá valem todas as cantigas, incluindo as nossas.
Foi-se embora o Lima. Tem 32 anos e chegou a sua hora de fazer um contrato das arábias. Já fez, está feito.
Tenho mais pena de não o ter visto chegar ao Benfica mais cedo do que chegou do que de o ver partir já em idade de merecer, como merece, uma reforma dourada onde quer que seja.
O brasileiro saiu do Benfica como um senhor. Vai-nos fazer falta, certamente.
Em três anos de Benfica, Lima marcou 70 golos, muitos deles extraordinariamente importantes. Foi um excelente avançado mas não só. Foi também um magnífico médio e um não menos empolgante defesa.
Lima jogava no campo todo exibindo uma generosidade para com os colegas e uma capacidade de luta face ao adversário que desde cedo cativaram o público e a crítica, sempre tão exigentes.
Com a saída de Lima fica desfeita a dupla que tão bem trabalhou para o último título nacional do Benfica. Lima e Jonas ou vice-versa, como preferirem. Ambos marcaram uma catrefada de golos.
Os adeptos são e serão sempre saudosistas de quem lhes deu alegrias até ao fim. E por isso o nome de Lima será reverenciado na Luz por muitos anos.
Nós, os adeptos, podemo-nos dar ao luxo de ter saudades de um antigo jogador porque não nos faz mossa. Já os jogadores não se podem dar ao luxo de ter saudades dos colegas de equipa que não estão mais lá e que lhes fazem falta.
Por exemplo, nos dois últimos jogos do Benfica nas Américas foram confrangedoras de ver as saudades que Jonas sentiu de Lima em campo. E isso é que já é um grande, um enorme desperdício.
O primeiro golo da época para Cristiano Ronaldo surgiu no jogo particular com o Manchester City. Foi numa bola em chapéu que o guarda-redes ainda tentou safar sobre a linha de golo mas sem êxito. Visto e revisto o lance não deixou dúvidas. A bola entrou na baliza e o árbitro esteve bem ao apontar para o centro do terreno.
No entanto, se o árbitro do jogo fosse o treinador do Real Madrid não teria, certamente, validado o golo de acordo com a opinião expressa de Cristiano Ronaldo, tão altamente expressa que se ouviu em todo o mundo.
- Estás sempre a roubar os portugueses!
Rafa Benítez e Cristiano Ronaldo, temos caso. Ainda não começou a sério a temporada e o Real Madrid já nos promete um número de egos só ao alcance das grandes multinacionais do entretenimento.
Nesta última semana o Benfica “on tour” fez três jogos e averbou três-não-vitórias.
Empatou dois jogos a zero e perdeu um jogo por 2-1. Marcou, portanto, 1 golo em 270 minutos, jogou uma vez em inferioridade numérica porque o Luisão foi expulso (embora não tenha mandado o árbitro ao chão) e uma outra vez em superioridade numérica (porque um mexicano qualquer foi-se ao Samaris com ganas de matador).
O Benfica foi ainda visitar a cidade de Nova Iorque e foi também visitado por um pugilista de fama planetária que tirou fotografias coma rapaziada toda e que teve a bondade de nem sequer perguntar pelo Maxi Pereira que era o seu jogador preferido do nosso plantel.
No capítulo das prestações individuais há a registar que Jonas falhou uma grande penalidade no jogo com o Club América, que Ederson defendeu uma grande penalidade da série de desempate com o mesmo adversário e que Samaris parece ser o único jogador do Benfica que se diverte com este novo estilo de jogo onde goza de uma liberdade com que jamais sonhou na época passada.
O próximo jogo do Benfica “on tour” será na madrugada da próxima segunda-feira e o adversário é o Monterrey, que vai jogar em casa. É bem provável que o Benfica termine esta pré-temporada averbando mais uma não-vitória. E não é drama nenhum.
Excepção feita ao jogo com os mexicanos do Club América – porventura um dos jogos mais maçadores do Benfica dos últimos e largos tempos -, a equipa construiu alguns momentos agradáveis com a Fiorentina e com os New York Red Bulls e por comparação com o que os seus rivais internos, Porto e Sporting, têm produzido nesta fase, não lhes ficou atrás no capítulo da episódica qualidade de jogo ao alcance no precoce mês de Julho.
Marcar golos é que tem sido mais difícil como se viu nos jogos com italianos e com mexicanos. Mas os golos, mais cedo ou mais tarde, vão aparecer.
O que parece ter desaparecido de vez é o Benfica das transições rápidas para dar lugar a um Benfica de um futebol apoiado, tão apoiado que não permite que ninguém fuja com a bola em velocidade não se vá desmanchar o bloco.
Tenho saudades de uma transição rápida, confesso.
Tal como aconteceu em 2014 por esta altura, também em 2015 o Benfica não vai ser o campeão da pré-temporada. E esta é, francamente, a melhor notícia deste Verão.
Se já o título de campeão de inverno às vezes dá galo, imagine-se só tudo o que pode correr mal ao longo de uma temporada inteira a um campeão da pré-temporada…
PS – Em Fevereiro de 2000, o Rui Santos, que era então o chefe-de-redacção de “A Bola”, convidou-me para escrever uma página de opinião semanalmente neste jornal. Tendo eu deixado de ser jornalista em 1998, o que me libertava dos deveres de imparcialidade e de contenção decorrentes da profissão, aceitei com muito gosto o convite e durante os 15 anos que se seguiram “A Bola” deu-me carta-branca para não ser isenta nem contida e para abusar da anarquia que me é tão querida. Depois de Rui Santos, neste meu período de “vigência” enquanto colunista, “A Bola” teve outros chefes-de-redacção como João Bonzinho e António Magalhães. O diretor, Vítor Serpa, nunca mudou. O que também nunca mudou foi a liberdade de opinião que sempre me foi conferida e que muito apreciei. Quinze anos foram muitas quintas-feiras e chega hoje ao fim a minha colaboração com “A Bola”. Gostei muito. A todos, obrigada. E adeus.
Nota do BENFILIADO: Foi com enorme prazer que durante 15 anos pudemos ler as crónicas desta Grande Benfiquista e foi com um prazer, ainda maior, que nos últimos anos, as pudemos disponibilizar aqui no nosso blogue para que todos os Benfiquistas tivessem a oportunidade de as apreciar. Somos nós Benfiquistas, somos nós aqui no Benfiliado que temos que lhe agradecer:
OBRIGADO NÓS LEONOR!
P.S. Hoje a foto que encima o post não é a habitual da Leonor mas sim uma imagem da última crónica dela no jornal que mantém o mesmo nome daquele onde o pai Carlos e os mestres Homero, Vitor entre outros nos ensinaram a amar o futebol em particular e o desporto em geral. Esta foto é, desde já, um objecto de colecção.