Antes de mais quero deixar bem claros dois pontos:
- Sou alfacinha de gema, vivo no Algarve conheço muito bem o país de lés a lés e não consigo encontrar grandes diferenças genéticas e de costumes entre o povo que vive mais perto da Galiza em relação àquele que vive mais perto de África.
- Apesar de achar Lisboa e melhor cidade do Mundo, acho que o Porto tem tudo o que Lisboa tem, embora naturalmente em menor numero.
Colocada esta introdução vamos ao que interessa: Há cerca de 30 anos, quando comecei no mercado de trabalho ia frequentemente a Itália, muitas vezes com colegas e concorrentes do norte de Portugal.
Ouvi então, centenas de vezes a comparação entre o norte de Italia, especialmente a Lombardia e Piemonte e o Porto e Minho em contraponto com as capitais vampiras, Roma e Lisboa e ainda a semelhança entre um sul de Itália dominado pela Máfia e pouco trabalhador e o sul de Portugal, dominado pelos comunistas e também ele pouco trabalhador.
Apesar de não concordar liminarmente com estas comparações, os numeros davam razão aos meus colegas do norte, numa altura onde por exemplo o único stand da Ferrari era em Vila Nova de Famalicão e os clubes exclusivos (presumo que com meninas) só existiam com requinte nos arredores do Porto.
Os italianos referiam sempre a relação entre a Máfia e a pobreza do sul, insistindo que o facto das instituições estarem ao serviço da Cosa Nostra retirava toda a possibilidade de investimento dos endinheirados industriais do norte na parte sul da península e então na ilha da Sicília... nem pensar.
Como todos os meus interlocutores eram ou milaneses e brescianos ou da região de Turim sempre pensei que aquilo fosse um grande exagero e nunca percebi se a Máfia era exógena ou endógena da pobreza.
Hoje, 30 anos passados tenho de reconhecer que os meus amigos italianos tinham toda a razão, a Máfia gera pobreza e a captura das instituições do Estado por organizações mafiosas afasta investimentos, banaliza a corrupção e acaba por criar uma enorme rede de pobreza que explora a seu bel-prazer.
30 anos depois o industrial e trabalhador norte é o maior consumidor do rendimento mínimo garantido agora rendimento social de inserção também conhecido pelo 'subsidio do cigano', isto apesar da comunidade que tem a fama de o usufruir existir em muito maior numero no outro extremo do país.
Em termos de níveis de riqueza, o pujante norte, dos Ferraris e dos clubes exclusivos para empresários é hoje a zona mais pobre do país tendo até sido ultrapassado pelo, ainda comunista, Alentejo.
Bem sei que 'vão vir' (ah grande Futre) paletes de comentários a dizer que isto não é bem assim, e que o norte empobreceu por isto ou por aquilo mas meus amigos, o norte de Portugal foi a região com pior desempenho na Europa (do Atlântico aos Urais) nos últimos 30 anos e isso não é explicável pelo Cavaco, pelo Guteres, pelo Barroso ou pelo Sócrates (eles fizeram mal a todo o país por igual) mas sim a uma cultura que lá se instalou e que se nota em certos pormenores como o que passo a citar:
"Relativamente aos incidentes verificados no dia de ontem (quarta-feira), no Pavilhão Dragão Caixa, entre adeptos das equipas de basquetebol do FC Porto e do Benfica, a PSP esclarece..."
Quando um símbolo do Estado de Direito Democrático como é a PSP que desempenha a principal função constitucional de zelar pela segurança dos cidadãos sofre de 'mafiosice visual' ao conseguir detectar adeptos do Benfica (provavelmente escondidos atrás das pedras que não viu serem arremessadas contra o autocarro do mesmo clube em 2010) num pavilhão onde só estiveram adeptos do clube da casa é porque essa instituição foi capturada pelo sistema mafioso em vigor na região.
Podem os nosso junta-letras amestrados ocultar estes factos que uma coisa é certa: A riqueza da sala de troféus do clube mafioso é inversamente proporcional à riqueza da sua região enquanto cresce de forma mafiosa, os seus apoiantes (e infelizmente os nossos que por lá moram) sofrem uma recessão de 30 anos!