Crónica de hoje da Leonor Pinhão
Viram o “colinho” que o Bayern deu ao Porto?
O Valência voltou à Luz no sábado. Lá estiveram sentadinhos os seus prospetores cheios de euros e de dólares e de vontade de os gastar. Não conhecem local mais aprazível para ir às compras do que o Estádio da Luz. São as singularidades do mercado. Nada a obstar.
Entretanto regressaram a casa e, certamente, já apresentaram a Peter Lim o relatório de tudo o que lhes foi dado observar na hora e meia do jogo do Benfica com a Académica.
Se foram sérios na análise às exibições individuais dos jogadores do Benfica, e é para isso que lhes pagam, a esta hora os olheiros do Valência já devem ter sido todos despedidos.
E com justa causa.
O senhor Lim pode ter muito bom feitio e ser dono de uma generosidade sem limites mas, caramba, virem-lhe dizer que o melhor jogador do Benfica e da Liga portuguesa é aquele brasileiro de 31 anos chamado Jonas e que, no fim de contas, se trata exactamente do mesmíssimo Jonas que o Valência teve consigo e que castigou, isolou, humilhou e chutou para o mercado sem proventos nem dividendos, digam lá se isto não é coisa para confundir e fazer perder a compostura a todo e qualquer magnata de Singapura.
As emoções de um campeonato como este, disputado taco-a-taco com o rival das últimas três décadas, distraem-nos de outros temas que não se prendam directamente com a luta em vigor pelo título nacional.
É compreensível que assim seja, acho eu.
No entanto, bastou uma notícia vinda dos confins da Alemanha para despertar em todos ou, pelo menos, em quase todos, memórias de situações que, em tempos idos, fizeram furor. E que furor.
O caso das agressões aos stewards no Benfica-Porto de 20 de Dezembro de 2009, por exemplo, já foi resolvido na Justiça ou continua a vaguear pela sua senda gloriosa rumo à prescrição?
Os cinco arguidos já se apresentaram em tribunal? E terão conseguido fazer valer a tese de que se agrediram os stewards foi em legítima defesa do seu bom nome? E quanto aos stewards, propriamente ditos, sempre são “agentes” do espectáculo ou provocadores contratados ou sacos de pancada para alívio de frustrações?
Há novidades deste episódio, passados que são mais de cinco anos sobre a original ocorrência?
A bem da verdade, a ocorrência nem sequer é extraordinariamente original. Ainda na semana passada, num jogo a contar para Taça da Alemanha entre o Leverkusen e o Bayern de Munique, o internacional bósnio Emir Spahic viu-se substituído nos instantes finais da partida e, a caminho do balneário, agrediu um steward que lhe apareceu pela frente.
O defesa-central do Leverkusen alegou que tinha sido provocado pelo dito steward mas, para não perdermos mais tempo, o melhor será passar já a palavra ao senhor Michael Schade, director-geral do clube que Spahic representa. Ou melhor, representava.
- A análise do caso através das imagens das câmaras de vigilância deixaram-nos sem outra escolha que não fosse a rescisão do contrato com Emir Spahic a quem desejamos as maiores felicidades para a sua carreira futura.
E, como se não bastasse, ainda acrescentou o dirigente do Leverkusen:
- O vídeo do incidente chocou-nos e embaraçou-nos e como não podemos esperar pelas decisões do processo legal entretanto instaurado tivemos de pensar numa resposta imediata a dar pelo nosso clube.
Estes alemães, coitadinhos, devem ser malucos.
Na última jornada da Liga o Benfica venceu por 5-1 a Académica. Dizer que foi melhor a exibição do que o resultado, que foi farto, já é dizer tudo sobre a exibição. Foi, na verdade, muito boa.
A Académica apresentou-se na Luz teoricamente escalada para não sofrer golos mas cedo se viu goleada e desanimou.
Para além do caso sério que foi o Benfica a jogar à bola, o jogo não teve casos.
Os nosso rivais em não se podendo agarrar a decisões da arbitragem, argumento recorrente quando a nossa vitória é tangencial, insinuam sempre que o adversário estava feito com o Benfica quando o resultado é uma goleada como a que aconteceu no sábado.
Rapazes da Académica, é que nem se ofendam com isto. São os nervos.
Adiante.
Por questão de lesões e também, provavelmente, de feitio, Enzo Pérez não tem sido feliz nestes seus primeiros tempos em Valência. Sosseguem, valencianos. O argentino também não foi nada feliz nos seus primeiros tempos no Benfica e depois foi o que viu.
É provável, no entanto, que o dono do Valência, o tal magnata de Singapura, seja uma pessoa impaciente e se exaspere por ver justificados os milhões investidos em Enzo.
E mais exasperado ficou, certamente, se os seus emissários lhe apontaram, em letra de relatório, que o substituto para Enzo inventado no Benfica, um tal Pizzi, enfim, é tão bom ou melhor do que a mercadoria entretanto adquirida.
Se não é, olhem bem, é o que parece.
Carrega, Pizzi!
Antigamente, os jogos eram todos ao domingo e à mesma hora. Os adeptos iam sabendo pela rádio os resultados nos outros campos do país. Era emocionante.
Depois de amanhã vamos ter coisa parecida. Depois de muitas curiosas hesitações, a recepção do Porto à Académica ficou, finalmente, marcada para a mesma hora da visita do Benfica ao Restelo.
Vão, assim, os dois que discutem o título jogar ao mesmo tempo. Vai haver uma corrida aos transístores de bolso. E não se esqueçam das pilhas.
A linha da frente do Benfica fez maravilhas no sábado passado mas, em prol daquele espírito indispensável à revalidação do título, o melhor jogador em campo foi o André Almeida.
Pelo que jogou, pelos dois golos que ofereceu, por ter sabido uma vez mais responder em pleno à necessidade de substituir um companheiro, por saber ser suplente sem nunca se queixar, por estar sempre disponível para a equipa em cada momento do jogo, por não nos deixar ficar mal.
Quando, já perto do fim do jogo com a Académica, Maxi Pereira conseguiu ver o pretendido cartão amarelo que o afasta do Restelo e o garante para o clássico seguinte, não deve ter havido adepto do Benfica que não pensasse com grande tranquilidade: “Não faz mal, com o Belenenses joga o André Almeida a defesa-direito …”
E este é um grande elogio porque, com toda a franqueza, substituir Maxi Pereira não é para qualquer um.
E o “colinho” que o Bayern deu ontem ao Porto?
Tantas facilidades. Até pareciam a Académica na Luz.
Ou não pareciam?
Transpondo para o jogo de ontem no Dragão as palavras a que recorreu Miguel Sousa Tavares, por exemplo, para descrever a sugerida renúncia da Académica no jogo com o Benfica, também os jogadores do Bayern “assim que ouviram o apito inicial, não descansaram enquanto não viram a derrota feita, consumada e garantida.”
E nisso gastaram os alemães apenas 5 penosos minutos enquanto, voltando ao jogo da Luz, os jogadores da não-Briosa “nisso gastaram apenas 18 minutos”.
Estou, no entanto, plenamente convencida de que a Académica conseguirá fazer melhor do que o Bayern de Munique fez no Dragão.
Aliás, está no seu pleno direito.