Crónica da Leonor Pinhão na Bola.
Com uma ou duas ou duas e meia ou três impressões digitais de Óscar Cardozo – é à escolha do freguês – o Benfica venceu normalmente o Sporting em Alvalade. “Normalmente” porque nos últimos anos é o que tem acontecido com frequência e “normalmente” porque este ano o Benfica tem persistido em ganhar jogos de “remontada”, como dizem os espanhóis.
Sofre um golo e depois dá a volta por cima. Foi o que aconteceu em Alvalade.
O jogo foi correctíssimo de parte a parte e quanto ao árbitro nem se deu por ele, que é o melhor elogio que se pode fazer a um árbitro. Costuma dizer-se que não há derby sem penalti e este último não fugiu à regra.
Em cima da sua linha de golo, Boulharouz defendeu a soco um remate de Salvio e nem protestou a decisão do árbitro, encaminhou-se cabisbaixo para a cabina e foi tomar o duche mais cedo.
No entanto, se o Sporting não estivesse num desconcerto e vivesse um momento mais consentâneo com a sua história, lutando pelo título como foi garantido no início da época, teria todo o direito e toda a vantagem em protestar contra a decisão do árbitro.
- Mas só há uma equipa em Portugal que pode jogar à mão na área?
Ou mesmo:
- Foi bola na mão, não foi mão na bola!
E até, citando argumentos alheios:
- Foi involuntário, foi um lance completamente involuntário.
Quiçá num momento raro de coragem política:
- Mas penalty porquê? O que é que o Boulharouz é menos do que o Alex Sandro?
Mas não, o Sporting está em baixo e já lhe falta ânimo para estas tiradas psicológicas. É certo que antes do jogo, houve um grande abuso de tiradas psicológicas por parte dos comandos leoninos que se resumem, neste momento, ao presidente. Mas saiu tudo ao contrário do que era previsto.
Por exemplo, ao intervalo, o Benfica perdia e como o Sporting ganhava, Godinho Lopes não desceu à cabina para dar murros na mesa. Mais esperto, muito mais esperto, Luis Filipe Vieira já estava na cabina ao intervalo, quando o Benfica perdia, porque foi lá que viu o jogo todo.
E foi por isso que não atendeu o telefone.
Jorge Jesus também esteve bem ao intervalo. Limitou-se a dizer aos jogadores:
- Pronto, já passaram as 72 horas e agora, se não se importam, comecem a jogar à bola.
E foi isto o derby.
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Mas isto agora é futsal? Assim não vale. Mais um ano, mais um campeonato e mais uma vez as regras não são iguais para todos. Então o FC Porto pode jogar com um guarda-redes-avançado?
Refiro-me ao Alex Sandro, o guarda-redes-avançado evidentemente. E ao Vasco Santos, evidentemente, essa promessa da arbitragem nacional que vai a internacional não tarda nada, o último a permitir que o Alex Sandro, na sua área, possa meter a mão à bola.
E está feito, segue o baile e apita o comboio e todos para os Aliados a apitar como o costume.
No fim do “derby”, o presidente do Benfica mencionou o assunto sem referir nomes. Foi para isso que foi eleito, para defender o Benfica. No dia seguinte, oficial ou oficiosamente, chegou um protesto vindo do Dragão. “O Benfica está a preparar os árbitros”, disse Rodolfo Reis.
O que é isso de “preparar os árbitros”, Rodolfo Reis?
Será que está a insinuar que o presidente do Benfica recebe os árbitros em casa e lhes dá chá e bolinhos e conselhos matrimoniais? E estando perto o Natal, que mal teria esse género de convívio?
Jogando o que joga com os jogadores que tem, a questão é que o FC Porto de Vítor Pereira, esse grande treinador, vem de três jogos consecutivos a beneficiar de erros de avaliação na sua área de rigor. E segue para bingo.
Todos sabemos que os árbitros erram, tal como os jogadores e têm direito a errar porque não são máquinas (por enquanto). Mas quando são sempre os mesmos os beneficiados e de rajada é normal que os rivais protestem.
Até o Sir Alex Ferguson, que é cavaleiro da Rainha de Inglaterra, protestou um bocadinho e em inglês (o que faz logo toda a diferença) por causa dos penaltis por conta do rival City e não pode o presidente do Benfica protestar, em português, com os penaltis por marcar em Portugal à conta de Xistra, Benquerença & Companhia?
Quanto a “preparar os árbitros”, cada um fala do que sabe.
E se felizes são os emblemas que ganham títulos como quem vai às compras à loja de conveniência – Sir Alex Ferguson “dixit” – cabe, por lei, aos infelizes que não têm a mesma sorte lutar contra esse abuso de facilidades.
E que viva a liberdade de expressão. E que viva também o cinema português.
- Vamos embora que isto foi tudo uma grande aldrabice! – já dizia o António Silva no “Páteo das Cantigas”. Referia-se Calabote, claro está.
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Glenn Stromberg jogou no Benfica em 1983/1984, trazido por Eriksson, que era o treinador, e por Borje Lantz, que era empresário e também era sueco. Lantz vivia em Cascais, gostava muito do nosso sol e do resto, colaborou com presidentes como Fernando Martins e João Santos e nunca enfiou nenhum barrete ao Benfica.
Na sua primeira passagem pelo Benfica, logo a seguir a ter levado o modesto IFK Goteborg à conquista da Taça UEFA, Eriksson cometeu a blasfémia de importar da sua Suécia natal um centro-campista com características físicas não só invulgares como contrárias ao modelo nacional de sucesso do centro-campista português típico: baixote, habilidoso, praticante exímio do futebol do tipo carrossel, às voltas, às inebriantes voltas sem sair do sítio.
Resumindo, com o devido respeito: um futebol sem progressão que, no entanto, fazia as delícias dos puristas do rendilhado nacional.
Stromberg era tudo ao contrário disto. Alto, fortíssimo, arrastando a equipa para a área adversária, era um médio “moderno”, todo virado para a frente. Para o sueco o meio do campo era muito simplesmente um lugar de passagem para o ataque, não era uma residência artística nem, muito menos, um local para acampar. Stromberg fez apenas uma época no Benfica, uma época sensacional, e foi imediatamente vendido para o Atlanta de Bérgamo onde viria a terminar a sua carreira.
Às vezes vamos tendo notícias de Glenn Stromberg. Hoje, a propósito do “derby”, lá nos apareceu o Stromberg nas páginas de “A Bola”, dando a sua opinião (“amo o Benfica e espero que vença”, mais directo e melhor do que isto é difícil), ele que é actualmente comentador de futebol na televisão do seu país.
Aproveitando a boleia do “derby”, Stromberg deixa nas páginas da edição de hoje de “A Bola” elogios a antigos companheiros de equipa na Luz, como Chalana, “talento como nunca vi igual”, e como Humberto Coelho de quem o sueco traça um retrato curto e conciso: “Um capitão, uma liderança impressionante.”
Impressionante para mim continua a ser o inexplicável mistério do “desaparecimento” de Humberto Coelho da vida do Benfica desde que deixou de jogar futebol. Humberto que foi um jogador histórico, um “capitão” notável e um profissional com um discernimento muito, muito acima da média nunca teve lugar em qualquer estrutura profissional da Luz depois de terminar a sua carreira como futebolista.
Um dia ainda lhe vou perguntar porquê. Curiosidades minhas que gosto do Benfica e da sua História.
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Paulo Sérgio é o primeiro treinador português a conseguir ganhar em Old Trafford. Aconteceu na semana passada, orientado os romenos do Cluj. Foi bonito, não serviu para nada em termos práticos mas tem o seu valor que fica registado na folha de Paulo Sérgio. Parabéns, mister. E se lhe vierem dizer que foi contra o Manchester United B ou C. mande-os ir dar sangue. Ou catar pulgas. Ou dar banho ao cão. Qualquer coisa do género, mas sem ofender.
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O Barcelona-Benfica foi na semana passada mas ainda dá que falar e percebe-se porquê. Constituiu um enorme desapontamento. Não para os benfiquistas que, de uma maneira geral, comprariam o 0-0 na véspera do jogo para, coisas da bola, se insurgirem contra o mesmo 0-0 depois do jogo (aconteceu comigo).
Mas onde o desapontamento do 0-0 bateu forte e ainda continua a bater foi entre os nossos rivais. Compreende-se. É de raiva. Queriam sangue. Estiveram semanas, meses à espera da nossa visita a Nou Camp na esperança, alguns, e na certeza, outros tantos, de que o Benfica sairia esmagado da Catalunha. É que lhes vinha mesmo a calhar. Não ocorreu, tenham lá paciência e atirem-se ao Tito Vilanova que fez o frete ou mesmo ao Messi, esse grande incompetente.