quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Leonor Pinhão, letal



Crónica de hoje da Leonor Pinhão:

Cá por casa não há nada destas coisas

Do ponto de vista do mercantilismo puro, a derrota do Benfica em Atenas terá sido de grande utilidade porque permitiu valorizar exponencialmente um activo do clube, o guarda-redes Roberto Jiménez que, com uma exibição sensacional, segurou o resultado tangencial de 1-0 a favor dos gregos.
Com este resultado, o Olimpiakos ficou bem lançado para a fase seguinte da Liga dos Campeões e o Benfica, por sua vez, ficou também muito bem lançado para a fase seguinte da Liga Europa, competição mais calhada para a sua valia actual. Desde que a UEFA inventou a Liga Europa, o Benfica já foi uma vez semi-finalista e uma vez finalista vencido.
Com espírito de missão, cabe-nos a todos, benfiquistas, elogiar até mais não a exibição de Roberto e a sua meia-dúzia de defesas incríveis, só não tão incríveis quanto a fulgurante aselhice dos nossos avançados na cara do espanhol. 
Há noites assim. Esperamos agora que, no próximo sábado, os avançados do Benfica, sejam eles quem forem, acertem com a bola na baliza do adversário em vez de acertarem em cheio no bom do Rui Patrício.

Primeiro em Coimbra e depois em Atenas, o Benfica deu um arzinho da sua graça no que respeita à produção do jogo. Em Coimbra juntou-se o bom resultado à mais do que aceitável exibição. Em Atenas, foi bem melhor a exibição do que o resultado. Fraco consolo, é verdade.
Ruben Amorim brilhou em Coimbra porque foi dele o bonito passe para o ainda mais bonito golo de Markovic. Na Grécia, Amorim fez os noventa minutos num nível muito acima da média a que nos vinha habituando. Ruben Amorim é português, é nosso, temos de lhe dar moral.

Desde que está no Benfica que Cardozo tem sido a besta negra do Sporting. No entanto, o paraguaio lesionou-se anteontem no jogo da Liga dos Campeões e deverá falhar o jogo de depois de amanhã com o Sporting para a Taça de Portugal.
Cardozo sempre dividiu opiniões entre os benfiquistas. Depois do incidente com Jorge Jesus no Jamor ainda mais ficaram divididas as opiniões. 
Portanto, é assim: quem exigiu a saída de Cardozo depois da final do Jamor, abstenha-se de lastimar a ausência do nosso goleador no clássico de sábado; quem embirra com o Cardozo desde o primeiro minuto, abstenha-se também.
Os demais podem ficar chateados à vontade por o paraguaio ficar de fora contra o Sporting.

Más notícias chegaram no princípio da semana para a seleção portuguesa. Nem Fábio Coentrão nem João Pereira vão estar em condições de ser utilizados por Paulo Bento nos dois jogos com a Suécia. Normalmente, são eles os laterais cativos na equipa nacional. Agora, nem um nem outro.
Também não é caso para nos deitarmos todos a chorar por causa disso. Até porque, sem que ninguém o esperasse, recebemos recentemente um grande reforço, enorme, poderoso.
Joseph Blatter. Claro está. Saiba Paulo Bento, em benefício do seu grupo, capitalizar em ânimo e em andrenalina suplementares a manifestação do presidente da FIFA quando lhe foi sugerido escolher entre Lionel Messi e Cristiano Ronaldo.
Queremos eliminar a Suécia, ou não queremos? Queremos, pois! Vá então de fazer do episódio Blatter um concentrado anímico. Para que a equipa portuguesa entre em campo cheia de vontade de vingar o seu “capitão” da ofensa de que terá sido vítima.
Se queremos ir ao Mundial do Brasil não podemos deixar morrer o caso Blatter. Se, por acaso, não formos ao Brasil concluiremos todos de que o futebol é um mundo de vigaristas e de corruptos. Mas só o mundo do futebol lá de fora, obviamente. Os estrangeiros, os aldrabões dos estrangeiros. Cá por casa não há nada destas coisas.

A imprensa vem apontando o nome de Rui Pedro Soares, presidente da SAD do Belenenses, como o eleito pelos clubes que recentemente se insurgiram contra Mário Figueiredo para lhe suceder na presidência da Liga.
Não é meu propósito fazer-lhe a biografia em meia dúzia de linhas numa coluna semanal de opinião. É-me totalmente indiferente que o “menino de ouro de Sócrates”, como recentemente lhe chamou Octávio Ribeiro, seja dragão de ouro ou de prata, ou mesmo de bronze. Muito menos me interessa a forma, cem por cento legítima como decidiram os tribunais, que terá arranjado para, a troco de um pequeno-almoço totalmente grátis, garantir o apoio de Luís Figo numa qualquer campanha eleitoral.
Também o facto de Rui Pedro Soares ter o apoio da maioria dos clubes da I Liga não me diz nada. Não obstante, a ser verdade, trata-se de uma situação que até diz muito. 
Diz muito sobre o país, de uma maneira geral, e sobre o futebol, de uma maneira particular.
Mas a mim, não me diz nada.
Em todo este cenário politiqueiro em torno da presidência da Liga de Clubes, o que verdadeiramente desperta a minha curiosidade, e gera até alguma apreensão, é a posição que o meu clube, o SLB, irá tomar sobre este assunto.
Aguardemos com a maior serenidade.

O Ministério Público determinou que se arquivasse o caso do incêndio de uma bancada do Estádio da Luz por insuficiência de provas para a identificação dos autores. Que pena. 
Continuam, portanto, à solta e habilitados a entrar em estádios de futebol os meliantes incendiários de 2011, tal como continuam usufruindo de iguais benesses os meliantes que, há semana e meia, irromperam pela área circundante ao Estádio do Dragão distribuindo fruta aos transeuntes – fruta, aqui, é mesmo uma figura de estilo – como se não houvesse Estado de Direito em Portugal.
Pelo andar da carruagem – outra figura de estilo -, é de temer que as gaiolas de protecção, como a que existe no Estádio da Luz, sirvam um dia destes para proteger uma minoria de público pacífico contra a maioria dos meliantes que tomarão conta da quase totalidade das bancadas.
Chamem-lhe ficção científica, chamem…

Também Pelé prestou esta semana um valioso serviço à nossa selecção. Instado a pronunciar-se sobre o despique luso-argentino para a Bola de Ouro, saiu-se com um lapso de todo o tamanho chamando Cristiano “Leonardo” ao nosso compatriota.
Mais um suplemento anímico para os jogos com a Suécia, ouviste Cristiano Leonardo? Mostra lá ao xexé ex-melhor jogador do mundo quem és tu.

A Roma empatou com o Torino. Ora aqui está uma boa notícia. Já ia a Roma numa série de 10 jogos seguidos a vencer no campeonato italiano e o velho recorde do Benfica de Jimmy Hagan – 29 vitórias consecutivas no campeonato português – parecia estar a ser desafiado.
Em Turim, os romanos marcaram primeiro mas, aos 63 minutos, Cerci fez o golo dos donos da casa e acabou-se logo ali a brincadeira.
Jimmy Hagan foi um treinador inglês contratado pelo presidente Borges Coutinho no início da década de 70. Ganhou três campeonatos. A história da sua chegada à Luz é bastante curiosa. Borges Coutinho entendeu que era altura de o Benfica ter um treinador inglês e contactou a Federação Inglesa pedindo-lhes uma sugestão para o cargo. Os ingleses avançaram com o nome de Hagan e Hagan avançou para Lisboa. Em boa hora.

Esta jornada da Liga dos Campeões produziu os seus fenómenos. Roberto no papel de super-guarda-redes e Hulk a marcar penaltis em jeito terão sido, provavelmente, os expoentes máximos da originalidade na terça e na quarta-feira, respectivamente.


Normalmente não comentamos o que a Leonor escreve para não estragar a crónica e não vamos abrir excepção. Apenas chamamos a atenção para a frase em bold - Letal!

3 comentários:

  1. Sem papas na língua e indo directamente ao que interessa, é uma cronica mordaz e "LETAL"

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  2. Como habitual a Grande Leonor não perdoa. Espectacular mais uma vez.

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  3. Grande Leonor. Um Homem com H grande!

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