quinta-feira, 24 de maio de 2012

Este post não é (só) sobre desporto



Antes de mais quero deixar bem claros dois pontos: 
  1. Sou alfacinha de gema, vivo no Algarve conheço muito bem o país de lés a lés e não consigo encontrar grandes diferenças genéticas e de costumes entre o povo que vive mais perto da Galiza em relação àquele que vive mais perto de África. 
  2. Apesar de achar Lisboa e melhor cidade do Mundo, acho que o Porto tem tudo o que Lisboa tem, embora naturalmente em menor numero.
Colocada esta introdução vamos ao que interessa: Há cerca de 30 anos, quando comecei no mercado de trabalho ia frequentemente a Itália, muitas vezes com colegas e concorrentes do norte de Portugal.
Ouvi então, centenas de vezes a comparação entre o norte de Italia, especialmente a Lombardia e Piemonte  e o Porto e Minho em contraponto com as capitais vampiras, Roma e Lisboa e ainda a semelhança entre um sul de Itália dominado pela Máfia e pouco trabalhador e o sul de Portugal, dominado pelos comunistas e também ele pouco trabalhador.

Apesar de não concordar liminarmente com estas comparações, os numeros davam razão aos meus colegas  do norte, numa altura onde por exemplo o único stand da Ferrari era em Vila Nova de Famalicão e os clubes exclusivos (presumo que com meninas) só existiam com requinte nos arredores do Porto.

Os italianos referiam sempre a relação entre a Máfia e a pobreza do sul, insistindo que o facto das instituições estarem ao serviço da Cosa Nostra retirava toda a possibilidade de investimento dos endinheirados industriais do norte na parte sul da península e então na ilha da Sicília... nem pensar.

Como todos os meus interlocutores eram ou milaneses e brescianos ou da região de Turim sempre pensei que aquilo fosse um grande exagero e nunca percebi se a  Máfia era exógena ou endógena da pobreza.

Hoje, 30 anos passados tenho de reconhecer que os meus amigos italianos tinham toda a razão, a Máfia gera pobreza e a captura das instituições do Estado por organizações mafiosas afasta investimentos, banaliza a corrupção e acaba por criar uma enorme rede de pobreza que explora a seu bel-prazer.

30 anos depois o industrial e trabalhador norte é o maior consumidor do rendimento mínimo garantido agora rendimento social de inserção também conhecido pelo 'subsidio do cigano', isto apesar da comunidade que tem a fama de o usufruir existir em muito maior numero no outro extremo do país. 
Em termos de níveis de riqueza, o pujante norte, dos Ferraris e dos clubes exclusivos para empresários é hoje a zona mais pobre do país tendo até sido ultrapassado pelo, ainda comunista, Alentejo.

Bem sei que 'vão vir' (ah grande Futre) paletes de comentários a dizer que isto não é bem assim, e que o norte empobreceu por isto ou por aquilo mas meus amigos, o norte de Portugal foi a região com pior desempenho na Europa (do Atlântico aos Urais) nos últimos 30 anos e isso não é explicável pelo Cavaco, pelo Guteres, pelo Barroso ou pelo Sócrates (eles fizeram mal a todo o país por igual) mas sim a uma cultura que lá se instalou e que se nota em certos pormenores como o que passo a citar:
"Relativamente aos incidentes verificados no dia de ontem (quarta-feira), no Pavilhão Dragão Caixa, entre adeptos das equipas de basquetebol do FC Porto e do Benfica, a PSP esclarece..."


Quando um símbolo do Estado de Direito Democrático como é a PSP que desempenha a principal função constitucional de zelar pela segurança dos cidadãos sofre de 'mafiosice visual' ao conseguir detectar adeptos do Benfica (provavelmente escondidos atrás das pedras que não viu serem arremessadas contra o autocarro do mesmo clube em 2010) num pavilhão onde só estiveram adeptos do clube da casa é porque essa instituição foi capturada pelo sistema mafioso em vigor na região. 

Podem os nosso junta-letras amestrados ocultar estes factos que uma coisa é certa: A riqueza da sala de troféus do clube mafioso é inversamente proporcional à riqueza da sua região enquanto cresce de forma mafiosa, os seus apoiantes (e infelizmente os nossos que por lá moram) sofrem uma recessão de 30 anos!




9 comentários:

  1. Mais uma vez a PSP do Porto ou mostra incompetência ou mostra conivência! Qual delas a pior!

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  2. Fantástico, Carlos! Eu gostaria de ter escrito isso! É isso tudo e eu já tive ocasião de em várias situações e em blogues referir isso mesmo.

    Aliás, qualquer pessoa que saiba um pouco de economia sabe que a corrupção, seja em que forma for, é a MAIOR causa para o atraso económico e social de uma região ou pais.

    Daí eu estar totalmente contra a regionalização, da forma como a querem fazer, em Portugal, um país coeso, e com os argumentos apresentados, porque mentirosos, quando o que querem é aprofundar o estado de corrupção para a defesa dos interesses de alguns caciques e capos bem conhecidos.

    Isso só é possível com uma população lavada ao cérebro, alienada na sua ignorância da realidade enganados com mentiras repetidas que lhes lava o ego macerado pela frustração e pelo ressentimento.

    Irão abrir os olhos quando acordarem para a realidade! E aí serão eles que irão sofrer como cães!

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  3. Há uns anos atrás, soube que Lisboa e Vale do Tejo contribuíam para o orçamento do estado numa proporção de 5 para 1 em relação ao Grande Porto e Vale do Ave.
    Fiquei esclarecido quanto às motivações que estão por trás da agremiação de contumil, bandeira de tudo o que seja contra Lisboa e o Sul!
    Pobres (especialmente no dinheiro que vai para os Ferrari's) das pessoas que são mentalizadas de que o Sul é que os rouba!
    Tenho exemplos na família!

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  4. Grande postadela com substrato até dizer chega !!!!!!!!!!

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  5. Grande texto. Mas olha se o "Manco" ler isto, não sei não. Ele que já aprendeu que no Porto trabalha-se, em Coimbra estuda-se e em Lisboa divertem-se...
    Bom, mas é isso mesmo. Cada cidadão da grande Lisboa pagava há anos, como diz o Lawrence 5 vezes mais impostos que o grande Porto dos Ferraris e de outros luxos o que demonstra que a corrupção vem de muito longe e está enraizada naquela gente.
    Comprovei o que diz Carlos Alberto, há alguns anos, numa viagem/passeio pela região norte. As fábricas, clientes da empresa onde trabalhei, eram autênticos barracões, com tectos de zinco, sem janelas ou partidas, sem envolvências dignas desse nome. Enquanto os patrões arrotavam de luxúria, babavam-se de gabarolices estúpidas ao mesmo tempo que se movimentavam nesses tais ferraris... E agora, é o que se vê!

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  6. Enorme Carlos Alberto,
    Belissima "posta", os meus parabens!
    Sinceramente, espero que nao venhas a ser mal interpretado por alguns que, sem reparar que Portugal e demasiado pequeno para promover divisoes entre partes, encontram na negacao das realidades o conforto para as suas dificuldades.
    Este teu BENFILIADO afirma-se a cada dia como um local de visita obrigatoria,

    Viva o Benfica!

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  7. @Carlos Alberto, fantástico, simplesmente fantástico. Uma vénia para ti e para toda esta analogia que nos mostra muito sobre a sociedade.

    Obrigado. Um abraço.

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  8. O melhor senão, um dos teus melhores post's de sempre.

    Excelente!

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  9. Carlos Alberto, este post retrata bem o que se passa cá. Sim, sou do Norte (infelizmente) e vivo no meio de tudo isso que descreve.
    A mentalidade desta gentinha (patrões) é duma pequenez atroz.
    A questão que coloca dos impostos pagos por Lisboa e Vale do Tejo ser superior não me admira nada porque, o que vigora por cá, são salários mínimos declarados quando na realidade os trabalhadores recebem o dobro ou mais.
    Obviamente que os trabalhadores saem prejudicados mas se não aceitarem estas condições… vão para o desemprego.
    Há empresas que nos recibos dos salários declaram que o trabalhador faltou x dias (o que é mentira) para pagarem ainda menos à segurança social e finanças.
    O pior, para mim, é que as instituições sabem o que se passa e não fazem nada!
    E é assim, anda tudo conformado neste antro de corrupção!
    O que os “empresários” querem são os grandes bólides estacionados ao pé da porta. O resto não interessa nada!
    Para concluir, o clube dos corruptos representa perfeitamente o que se passa por cá.

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