A emancipação no calcanhar

Nelson Oliveira fez ontem a estreia como avançado de uma grande equipa. 

Bem sei que ele já tinha jogado algumas vezes com aquela camisola tanto na equipa principal como nas camadas jovens mas só ontem teve a estreia.

Enquanto nos juniores ou jogava com os outros 'quase' grandes ou com clube pequenos onde a força física e mental não tem comparação. Na selecção, especialmente na do Ilidio Vale a táctica era sempre a mesma 'defendem-todos-e-mandam-chutão-para-a-frente-e-fé-no-nelson'

Depois foi para o Paços de Ferreira onde essa sumidade táctica chamado Rui Vitória, achava que qualquer Rondon era melhor que ele e só entrava para jogar, ainda mais em contra-ataque.

Chegado ao Benfica já tinha jogado alguns bons jogos mas nunca tinha apanhado o autocarro. Ele chegou ontem. 

Titular contra uma equipa que em vez de jogar só no seu meio-campo, resolveu inovar e colocou todos  em metade do seu meio-campo a coisa esteve muito complicada.

Nelson Oliveira, espantado com essa táctica e sem o seu passe social para desfrutar daquele autocarro, fez uma primeira parte onde basicamente... fez tudo errado, assim uma espécie de Saviola dos últimos tempos mas sem a inteligência do argentino. 

Seria natural ser substituído ao intervalo tal a sua inutilidade, mas Jesus, qual líder tribal, obrigou o Nelson a emancipar-se e não o tirou.

Eis que aos 48m o menino recebe uma bola mesmo em zona frontal e tem tudo para fazer mais uma asneira  ou através de uma finta parva ou com um remate contra os 4 ou 5 defesas que estão à frente mas ele decide isolar o colega com um magistral toque de calcanhar... foi golo mas os colegas não correram para quem o marcou mas sim para o menino que, nessa altura se tinha tornado homem.

Há tribos onde, para serem homens, os adolescentes têm por exemplo que violar um leão - o que vendo as imagens do João Pereira e o Capel  não deve ser assim tão difícil pois eles devem gostar - ali, na tribo da Luz um avançado imberbe tem de fazer uma magistral desmarcação com o calcanhar para ser homem, juro que em toda a segunda parte, na TV do café onde vi a bola, o Nelson Oliveira pareceu de facto muito maior!