A Guerra Civil do Benfica, capitulo VI

Quando Manuel Vilarinho ganha as eleições com o slogan "Prometo e vou cumprir" o país respira de alivio, pensa-se que finalmente a paz chegou à sua maior instituição e que doravante os Benfiquistas só teriam razões para sorrir: Estava iniciado o actual ciclo!

Mao dizia que toda a grande caminhada começa por um pequeno passo e tinha toda a razão, o problema dá-se quando esse primeiro passo se faz na direcção errada e aí aquela caminhada irá terminar noutro destino que não o desejado.

Fartos da trapalhadas e das mentiras de João Vale e Azevedo, os Benfiquista acreditam agora que aquelas eleições, as mais concorridas de sempre, tinham trazido gente de palavra e que Vilarinho iria cumprir as suas promessas e na frente delas estava a que todos consideravam que fora essencial na sua vitória: contratar Mário Jardel.

Vilarinho que havia dito: "Para acabar com as dúvidas, desfazer boatos e como garantia de que a notícia Jardel não é virtual, prometo aos sócios que, a não ser verdade tudo o que afirmei acerca de Mário Jardel e do Galatasaray, oferecerei ao Benfica Futebol SAD a quantia de cem mil contos" (A BOLA de 26/10/2000) - não podia obviamente estar a mentir.

E quando dizia: "Se queremos projectar uma imagem altiva do clube temos de respeitar os compromissos assumidos" (A BOLA de 19/10/2000) - a propósito dos contratos com a Olivedesportos é porque sabia que o Oliveiredo tinha razão, ainda para mais sendo ele advogado e tendo sido magistrado na Procuradoria da Republica. 

O alivio durou três dias, o tempo que mediou entre as eleições e a decisão do Tribunal da Relação de Lisboa em dar razão ao Benfica no caso Olivedesportos:

A malta começa a ficar alarmada: 

"Então, mas se o aldrabão tinha razão nisso e isso era só o mais importante da sua presidência... se calhar... querem ver que este atraso do Tribunal tem algo a ver com o 'sistema'?" - E logo ali se começa a desenhar nova teoria da conspiração: 

Diz-se que Vilarinho não passaria de um pau mandado do sistema através do BES - "Só faltava agora o Jardel também não vir" ouvia-se muitos Benfiquistas dizerem... e não veio, nem o Jardel nem os tais 100.000 contos (meio milhão de Euros) prometidos.

Estava aberta novamente a clivagem entre os adeptos do Benfica. Clivagem que ficou logo lactente na primeira grande decisão de Vilarinho no que ao futebol diz respeito: Trocar Mourinho pelo Toni.

Politicamente seria uma decisão fácil, especialmente para quem não tinha a minha noção das coisas, como era o caso:  - Mandar embora o tradutor arrogante e contratar a velha glória só podia ser popular mas, como quase sempre, o palpitar da massa associativa do Benfica já tinha percebido que estava ali algo especial, já tinha adoptado Mourinho como seu e estava pronta para ir com ele para a guerra, como ele pediu após a primeira derrota no Bessa ainda com JVA na presidência. 

Vendo que meteu a pata na poça Vilarinho pede a Luís Filipe Vieira que o ajude a ir resgatar o 'pequeno Mouro' como chamavam os apoiantes da direcção ao Mourinho a Leiria, mas Vieira falhou o objectivo porque como se pôde ver daí para a frente, as relações pessoais encravam os interesses do Benfica, tendo na altura Mourinho recusado liminarmente Jesualdo Ferreira como adjunto... que ironia!

Vilarinho, que nunca tinha pensado ver-se naquele lugar percebe que vai ficar na história como o pior Presidente do Benfica, especialmente em termos de resultados: o Benfica fica 2 anos seguidos fora das competições europeias e obtém a pior classificação de sempre, o tal 6º lugar.

Apesar de tudo a margem de apoio a Vilarinho mantém-se alta mais não seja porque o seu opositor está preso ou em vias de o ser o que dá uma folga à direcção diferente do que seria ter JVA na televisão a gritar por justiça no Benfica. 

Vilarinho vai buscar Vieira ao Alverca para director do futebol e depois torna-o seu sucessor numas eleições quase plebiscitarias. 

Luís Filipe Vieira chega a presidente e decide chamar um homem do sistema, conhecedor dos meandros do futebol, fundador da casa do Porto do Luxemburgo e Dragão de Ouro por esse mérito. Alguns sócios com memória lembraram-se então do empresário que esteve por trás da rescisão de Paulo Sousa, Pacheco e João Pinto em 1993... era o mesmo José Veiga e aí a clivagem acentua-se. O titulo de 2005 conquistado por um Trapattoni constantemente achincalhado num Estádio da Luz que lhe assobiava o futebol prático ainda levou a alguma união, desbaratada logo no ano seguinte com ataques a uma fantástica campanha europeia onde se eliminam os últimos dois campeões europeus e onde um acusado de ser "demasiado bom na Europa" Koeman, só cai com mais um daqueles roubos normais da Catalunha.

Depois vêem ao de cima algumas trafulhices de Veiga e chega-se ao ponto de se ver em directo numa televisão que se dizia independente o arresto de bens à ordem de um banco luxemburguês (ainda não se falava no branqueamento da capitais e fuga ao fisco da transferência de João Vieira Pinto para a lagartada) e com o salário na SAD do Benfica penhorado.

Perante estas fragilidades, Veiga resolve demitir-se e tem uma solidariedade pungente de Vieira que afirma que ele voltará assim que esclarecido.

Nunca foi esclarecido o porquê da zanga posterior mas a partir de determinada altura, quando Vieira despede Fernando Santos para ir buscar de novo o Camacho, Veiga passa a liderar a oposição.

E é assim que chegamos a esta 'balcanização' do Benfica, onde há facções para todos os gostos: Há os Vieriistas,  os Veiguistas, os Valistas, os saudosistas, os anarquistas e os derrotistas.

Demasiados 'istas' no universo dos Benfiquistas mas sobre isso iremos falar no próximo capitulo

P.S. Pode ler os capítulos anteriores aqui: 

capitulo I, capitulo II, capitulo III e capitulo IV e capitulo V