Crónica de hoje da Leonor Pinhão
O Mundial começa amanhã. A selecção portuguesa tem estreia marcada na próxima segunda-feira. Quando tudo acabar (o mais tarde possível para os portugueses, é o que se deseja) se fará o balanço. Quem brilhou, quem desiludiu, quem surpreendeu, quem deitou tudo a ganhar, quem deitou tudo a perder, enfim, essas coisas…
Para já, e no que diz respeito à nossa selecção (que é o que nos interessa) é possível fazer o balanço dos jogos de preparação pré-Mundial contra gregos, mexicanos e irlandeses. Resumidamente: foi em crescendo.
E de tal modo em crescendo que até quem há, entre os pessimistas, os que lamentam a goleada imposta à República da Irlanda porque, temem, pode induzir não só a selecção mas também a nação num estado pernicioso de euforia.
Discordo, respeitosamente. É bom ganhar. E marcar golos, muitos golos, é melhor ainda.
Nestes três jogos destacaram-se três jogadores. Poderão não vir a ser as figuras do nosso Mundial mas foram, certamente, as figuras do nosso pré-Mundial. A saber: o guarda-redes Eduardo (garantindo o triunfo sobre o México), Fábio Coentrão (a defesa-esquerdo, a médio esquerdo, autor de golo e meio contra a República da Irlanda) e Hugo Almeida (assinando dois golos no único jogo em que foi titular).
Cristiano Ronaldo deu bons sinais de saúde contra os irlandeses mas o melhor do mundo só jogou uma hora em Newark e nem pisou a relva no Jamor e em Boston. Por isso mesmo pode-se dizer, e com toda a propriedade, que nestes três jogos de preparação a selecção portuguesa foi Fábio Coentrão e mais dez. E não foi nada mal.
Para a semana já é a sério. Boa sorte!
O momento Quim Barreiros do presidente eleito do Sporting terá afastado do último congresso leonino alguns nomes de peso do universo do clube, como Marçal Grilo. O antigo ministro, de acordo com a imprensa, ficou “desagradado com as polémicas declarações” e solicitou que o seu nome “fosse retirado da comissão de honra” do evento. Está no seu direito. Trata-se de alguém que foi, precisamente, ministro da Educação.
De um modo geral e sintomático, detetou-se nos dias que se seguiram ao momento Quim Barreiros do presidente do Sporting a quase total cobertura do referido momento por um manto de silêncio da imprensa, dos opinadores, etc…, quando, e houvesse vontade para tal, haveria ali matéria para um sem número acutilâncias analíticas. Quer pela importância do tema propriamente dito (as eleições na Liga), quer pelo inusitado das imagens gráficas.
A verdade é que não houve vontade de mexer no assunto. A meu ver, bem. Logo surgiram, dos mais diversos quadrantes, tentativas de explicação para o fenómeno. Porque se trata de um fenómeno sempre que um presidente de um clube de futebol produz afirmações contundentes e não encontra por parte da comunicação social apetite para fazer render o peixe.
Há quem justifique essa pouca valia emprestada pelos jornais ao momento Quim Barreiros do presidente do Sporting como um acto de cobardia (em função do ataque ao Benfica e ao FC Porto) ou como um acto de puritanismo (em função das metáforas) ou como um acto de hipocrisia (em função da humanidade que as todos assiste) ou como, muito simplesmente, um acto de comiseração (em função do respeito devido ao Sporting).
Eu vou pela comiseração e descarto o resto. Era só isto.
A arte plena do humor quando toca a futebol é, nas mais das vezes, uma grande impossibilidade porque o futebol exige tanto aos seus adeptos em termos de devoção e de monomania que se torna uma tarefa hercúlea fazê-los rir quando o foco extravasa o limitadíssimo território do chamado amor-próprio.
De uma maneira geral, que julgo ser uma característica muito enraizada no nosso povo, domina uma liberdade ruidosa e sem freio para nos rirmos dos males dos outros enquanto, no polo oposto, o dos nossos males, a regra é o silêncio e a censura e, pior ainda, vigora uma intolerância abaixo de zero para o encaixe de qualquer boa graça que seja “do contra” aos nossos afectos, interesses e egos.
Vivo desde sempre com a ideia, porventura romântica, de que rir é desobedecer ao mais alto nível. E, tratando-se de futebol, desobedecer a si próprio e aos ditames do humor-de-Estado não é para todos. É só para alguns que, por essa mesma razão, se distinguem dos demais.
Como são os casos de Ricardo Araújo Pereira, que toda a gente conhece, e de Joana Marques, que se vai dando a conhecer com bravura. Nenhum deles é banal no modo de trabalhar o humor porque, constantemente, se colocam em causa a si próprios e aos seus amores. E fazem isso com uma graça imensa.
Na semana passada, Ricardo Araújo Pereira “levou” Jorge Jesus, o próprio, a protagonizar a seu lado um brevíssimo sketch em “Melhor Do Que Falecer”, o momento de humor com assinatura de autor que se segue diariamente ao jornal da noite da TVI. Quem não viu não sabe o que perdeu.
Dentro daquele sentido de humor pobrezinho, apanágio de qualquer dispensador de etiquetas, as graças recorrentes quando se trata de Jesus, visam o uso do português, gramatical e semântico, do treinador do Benfica.
Ora Ricardo Araújo Pereira, adepto do Benfica 24 horas por dia, pegou no assunto pelo lado contrário. Sentou Jesus a seu lado, um Jesus professoral a “corrigir” o português do comediante, a acusá-lo de gritar demais com os jogadores da play-station num curto desfilar de temas-anti-Jesus transformados em temas-pró-Jesus interpretados pelo próprio. Foi brilhante. E que bom foi ver que o treinador do Benfica também sabe brincar com as suas peculiaridades.
Joana Marques, adepta do FC Porto, trabalha o seu humor nas manhãs da Antena 3 e no Canal Q das Produções Fictícias onde, todas as noites de segunda-feira, assina um comentário futebolístico no decorrer da emissão de “Inferno”, o serviço diário de notícias do dito canal.
Joana Marques é, também ela, uma desobediente sempre capaz de nos surpreender porque, assumindo como Ricardo Araújo Pereira o seu fervor clubista, desfaz a cartilha do humor expectável, do humor-de-Estado, com um atrevimento e um esplendor dignos de nota.
Quando, há coisa de semanas, Paulo Bento divulgou os seus convocados para o Mundial, vi Joana Marques, no seu espaço de intervenção no “Inferno”, a protestar energicamente contra a exclusão do “melhor jogador do mundo” da lista do seleccionador nacional.
- Mas o Cristiano Ronaldo foi convocado – retorquiu-lhe Pedro Vieira, o “pivot”.
- Refiro-me ao Licá – rematou a jovem humorista com o ar mais sério deste mundo.
Benditas sejam, portanto, as pessoas que nos fazem rir.
Paulo Fonseca vai regressar a Paços de Ferreira, lugar onde foi muito feliz na temporada de 2012/2013 o que lhe valeu o ingresso no FC Porto em 2013/2014. Onde já não foi tão feliz, como é do domínio público.
As repetições em futebol acontecem.
Os adeptos do Paços, que muito sofreram na última época, anseiam com toda a legitimidade pela repetição do sucesso de Paulo Fonseca na capital do móvel, se possível com nova qualificação para a disputa do acesso à Liga dos Campeões, situação bem mais agradável do que a de ter de lutar ferozmente até ao último segundo pela permanência na primeira divisão.
E que Paulo Fonseca faça uma temporada de tal modo excelente com os castores que no ano seguinte seja, outra vez, contratado pelos dragões! – é o anseio dos adeptos mauzinhos dos rivais directos do FC Porto.
Repetição por repetição, pois que seja levada até às últimas consequências.
Na semana passada, Luisão foi condenado por um tribunal alemão a pagar 70 mil euros ao árbitro alemão que atirou ao chão num jogo particular do Benfica, em Dusseldorf, no já distante mês de Agosto de 2012.
Vejam só como é lenta a justiça alemã. E com evidente prejuízo para o Benfica.
Tivesse o tribunal de Dusseldorf decidido em prazo decente a pena a aplicar ao “capitão” do Benfica, talvez o árbitro alemão que em Maio de 2014 calhou ao Benfica na final da Liga Europa tivesse entrado em campo com uma disposição, enfim, menos corporativa e menos vingativa.
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