terça-feira, 6 de agosto de 2013

A Guerra Civil do Benfica, capitulo III



Falar neste período é falar de um divórcio litigioso que ia destruindo o Benfica ao contrário do que aconteceu,uns anos mais tarde aos andruptos, cuja separação da Carolina Salgado apenas lhes afectou a reputação, precisamente porque beneficiaram de um clima de paz interna que segurou o seu Presidente, contra todas a expectativas.

No post anterior sobre este assunto referi que se dizia à boca pequena que João Santos não passava de um ´lirico' do Remo, que não era mais que o homem que Jorge de Brito mandara avançar para ser queimado contra Fernando Martins. 

Tendo no entanto ganho as eleições de forma surpreendente, quem iria de facto mandar efectivamente era Jorge de Brito, um grande benemérito do clube e talvez aquele que mais colocou da sua fortuna pessoal ao serviço da instituição.

Jorge de Brito era e sempre será, a imagem do 'Mecenas' no desporto português. No entanto dá-se o divórcio deste, divorcio esse motivado, falava-se na altura, pelo facto da família o querer impedir que ele desbaratasse a sua fortuna no Benfica, agora que era dirigente.

Com todos os bens cativos pelo tribunal de família Jorge de Brito estava impedido de ajudar o seu clube do coração mas a vontade estava lá e construiu uma grande equipa que esteve presente em duas finais da Champions, à altura TCE, em 1988 em Estugarda e em 1990 em Viena.

Em qualquer clube esse facto, de em 3 anos estar em duas finais, seria enaltecido, no entanto no Benfica ficou mais famoso o saltar de botas dos jogadores na Alemanha e o penalti falhado pelo Veloso ou o jogo de 1990 contra o Guimarães onde se lesionou o Diamantino (jogador em melhor forma na ocasião) apontado por toda a oposição na altura como um exemplo de má gestão em vésperas de uma final europeia.

Nem o facto de ser Eriksson primeiro e Toni depois os timoneiros levou a que o coro de criticas suavizasse. O mau futebol praticado nessas finais era lembrado assiduamente por quem estava no outro lado da trincheira, especialmente por essa nova espécie de combatente que usava o nome de 'notável'.

E quem eram os 'notáveis'? Todo e qualquer 'bicho careta' que estivesse na oposição disposto a disparar um tiro mediático. Os meios de comunicação, já aí fortemente controlados pelos andruptos, esfregavam as mãos de contentes com esta nova categoria. 

Apareceram os Jaime Antunes, os Damásios, os Madalenos, os Vale e Azevedos, entre muitos outros, todos eles como se verá mais adiante com uma particularidade: Só eram 'notáveis' na oposição, como Damásio (quando deixou de ser 'amigo' do andrupto-mor) e depois Vale e Azevedo perceberam. - Ainda hoje é assim!

Sem o dinheiro de Jorge de Brito todo o projecto começa a ruir mas a direcção decide dar um salto em frente quando já estava à beira do precipício: Negoceia os direitos televisivos dos jogos com a RTP e vai buscar o Paulo Futre numa jogada de altíssimo risco.

O Benfica fica assim com um 'dream-team' que culmina na conquista da Taça, num jogo magistral contra o Boavista (5-2), no Jamor, mas com a perca do titulo de campeão para uns andruptos bastante inferiores mas carregadinhos ao colo pelos Martins do Santos da época.

Chegamos então ao verão de 1993, o "verão quente de 1993", onde se dá o dia da vergonha:


O Sporting de Sousa Cintra faz o que os seus antepassados fizeram em 1907 e vem buscar quatro carismáticos jogadores à Luz, Rui Costa, João Pinto, paulo sousa e pacheco, todos com salários em atraso (não tanto como se dizia na altura como anos mais tarde se provou e que obrigou o Sporting a dar-nos quase todo o dinheiro que tinha recebido da Juventus).

Rui Costa recusou liminarmente sair, João Pinto foi resgatado à ultima da hora mas paulo sousa e pacheco foram embora. Lembro-me desse dia como se fosse ontem, tinha uma reunião no Porto e fiz o caminho tão nervoso que tive de parar na área de serviço de Condeixa para vomitar. 
Ao final da tarde quando regressei a Lisboa passei na Luz onde estava tudo em choque, e onde até constava que o Mozer tinha ido levar um cheque de 80 mil contos, da conta da sua então rica esposa, para que o Presidente pudesse salvar o clube. Provavelmente mais um mito urbano!

Nos tempos que se seguiram o que para mim tinha sido uma infâmia lagarta era para todos os 'notáveis' auscultados algo natural, quase que 'bem feita' dada a "degradação e amadorismo da gestão do Benfica". Lá aventavam a hipótese de ter sido um bocado chato da parte do Sousa Cintra mas a culpa era claramente de Jorge de Brito e nem o seu raide a resgatar João Pinto lhe valeu de nada.

A equipa de futebol, agora sem Futre que fora vendido ao Marselha, paulo sousa e pacheco que foram vestir à presidiário, apenas contrata Ailton o que deixava os sócios com a expectativa em baixa. 

A Guerra Civil estava ao rubro e os 'notáveis' não se cansavam de afirmar que tinham alternativa, começa-se a ouvir termos muito técnicos e complicados por gente muito credível, pelo menos para a imprensa, e todos achavam que o velho estava senil e que tínhamos de correr com ele. 

Marca-se então uma Assembleia Geral do Benfica (salvo erro presidida pelo Juiz Adriano Afonso - futuro grande 'notável') onde só faltavam os sócios levarem os archotes para queimar o homem. 

Obviamente, com o coração dilacerado por uma turba que o queria 'linchar' o Senhor Jorge de Brito anuncia a sua demissão. Dizem que nunca mais foi à Luz. 

A minha memória dessa noite foi de ter chegado ao pavilhão e estar já um ambiente distendido, quase de alivio pelo Presidente ter abdicado mas que entretanto se começava a perguntar algo cujos 'notáveis' se tinham esquecido de dizer: "E agora?" 

E agora vinha a oposição com Manuel Damásio ao leme e estava na hora de todos os que tinham estado com Jorge de Brito se mudarem de armas e bagagens para a trincheira e passarem eles próprios a serem 'notáveis' e contestatários como se verá na fatídica semana entre 7 e 14 de Maio de 1994... mas isso será para outro capitulo.






P.S. Pode ler os capítulos anteriores aqui: capitulo I e capitulo II










21 comentários:

  1. Escreve um livro,e a Dhoze que o patrocine

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  2. E a partir daki a derrocada do Benfica,e o andrupto mor a rir as gargalhadas,e mesma assim n se aprendeu nada até hoje :/...Grande Carlos Alberto,obg por lembrares estes tempos de ingratidão por kem tanto,mas tanto deu ao nosso Benfica.

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  3. Carlos,

    "ou o jogo de 1990 contra o Guimarães onde se lesionou o Diamantino": Errado, Diamantino lesionou-se em 1988. Há quem diga que foi a mando tal a brutalidade da coisa... A meio campo sem ser num jogada de perigo...

    "Nem o facto de ser Eriksson primeiro e Toni depois os timoneiros...": Errado, é ao contrário, Toni em 1987 1988 e Eriksson em 1989 1990.

    E tudo certo... Mas como Benfiquista, nada a apontar a Jorge de Brito. Tal com escrevi, deu mais do que podia ao Benfica...

    Saudações Benfiquistas

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  4. Continua o bom trabalho Carlos Alberto. Estou a adorar... para mim, é neste momento que se dá o inicio do fim do glorioso Benfica, tal como conhecemos. A eleição do Damásio, aliada à fatídica Lei Bosman, que veio alterar o panorama do futebol europeu e abriu alas ao futebol moderno, remeteu o nosso SLB para anos de desespero... Ainda continuamos a viver a nossa Idade das Trevas, infelizmente!

    É neste período, que com 12/13 anos que começo a ter consciência da dimensão do Benfica, e a preocupar-me com o destino do nosso clube!

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    1. Não, não!

      "O início do fim", começa antes!
      Começa na política implementada por Fernando Martins e no seu conluio amigo com o maior bandido deste país, a Norte!

      Aí sim, aí é que começou a espiral do declínio hegemónico do SL Benfica!

      Não tentem reescrever a história e serem mentirosos.

      Isso nunca deixarei que se faça!

      E mais. É injusto relegar João Santos para um plano menor. João Santos, embora apoiado financeiramente por Jorge de Brito, foi um Grande Homem e um Grande Benfiquista, de uma urbanidade e um trato intocáveis, colocando sempre os interesses do Glorioso em primeiro lugar, exaltando sempre, sempre, os seus valores e os seus princípios.
      Lutou contra o assalto ao poder pela corja de bandidos azul e bronca, exactamente o contrário feito por Fernando Martins, seu antecessor e que derrotou, que fez um pacto VERGONHOSO com um demónio, fechando os olhos a todas as diatribes, vigarices, roubos e violência fomentados de todas as formas por esse seu amigo do norte criminoso e corrupto, e que teve e tem as consequências que ainda hoje se sentem - uma delas foi o descuido e animosidade que criou com o lagartêdo e que culminou com o ataque desse boçal do Sousa Cintra aos quatro jogadores do Benfica, levando dois - Pacheco e Sousa - dizendo à boca cheia que "queria pôr o Benfica de joelhos".

      Convém também alertar os desmemoriados que nessa altura, desde o consulado de Fernando Martins, havia um contencioso com a construtora, a "Teixeira Duarte" em que esta reivindicava 450.000 contos (quase dois milhões e meio de euros, muito dinheiro à época) pelo não cumprimento de pagamentos por parte da direcção presidida por Fernando Martins, e que acabou com a condenação do Clube, sendo este obrigado a pagar esse valor à referida empresa, passado alguns anos.
      Como referi em comentário anterior, a megalomania e a obsessão de Fernando Martins em fechar o Estádio da Luz sem que isso se justificasse (ao contrário do que já li aqui, em comentários feitos por verdadeiros ignorantes e patetas), provocaram grandes desiquilíbrios que trouxeram consequências gravíssimas para as direcções seguintes presididas por João Santos e Jorge de Brito.
      Jorge de Brito, não merecia essa maldade, essa infâmia que sofreu. Foi um Homem que deu tudo ao Benfica, e mesmo no leito de morte pediu que ligassem o televisor para ver o seu Benfica exactamente na noite anterior ao dia em que partiu deste mundo.
      Obrigado Presidentes João Santos e Jorge de Brito

      Também é público a oposição feroz de Fernando Martins, no início, quando a direcção presidida pelo actual presidente LFV resolveu desmantelar o antigo estádio e decidiu construir o novo. Opunha-se, pois não queria ficar "desligado" daquela coisa descomunal que acabou por fazer, já, nessa altura completamente desenquadrada das tendências que mais tarde acabaram por se verificar em pleno, que foi a redução, em função de muitos factores, do número de espectadores nos estádios. Depois, lá acabou por concordar e colocar-se ao lado de LFV. Este soube sempre reconhecer esse apoio e foi sempre evidente a forma como tratou o velho presidente. Mas ainda bem. Para todos os efeitos Fernando Martins foi presidente do Glorioso, um Benfiquista com o mesmo coração vermelho dos outros dois que referi e por isso merece sempre o meu respeito.

      Saudações Benfiquistas.
      GRÃO VASCO

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    2. finalmente alguém põe um pouco de juízo neste blogue, que no que toca a defender os valores benfiquistas, cada vez mais deixa a desejar!

      bravo grão vasco

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    3. Caro anónimo,

      Isto para mim nunca poderá ser uma guerra.
      Respeito o autor do post, como te respeito a ti e mesmo outros anónimos que vêm aqui com posições exactamente antagónicas à tua - a esses nem respondo, pois não sou apologista de guerras civis. Respondo-te a ti, pois mesmo que concordes comigo, não deves falar em muito ou pouco juízo apesar de poderes estar cheio de razão. Aqueles que o não têm, mais tarde ou mais cedo reconhecerão o seu erro. Só se forem patològicamente emntecaptos.
      Serenidade acima de tudo!

      É certo que já em post anterior manifestei a minha posição quanto a este tipo de posts. O rigor e os factos são para mim algo que respeito sempre, por isso escrevi o respectivo comentário supra. Mas nada mais do que isso.

      Saudações Gloriosas.
      GRAO VASCO

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    4. Concordo que FMartins foi lume que se esgotou rapidamente.

      Uma Catedral e a amizade com o capo são feitos com uma distância, entre ambos, inimagináveis para um presidente do Benfica. E nunca se dignou a explicar como foi possível...

      Digamos que, em tom mais poético, enquanto Jorge de Brito abriu o coração e deixou-se ir... Martins ficou com os sacos de cimento que sobraram do fecho do terceiro anel, e o coração transformou-se em betão...

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    5. Caro Grão Vasco:

      conforme refiro no meu comentário, é com 12/13 anos que ganho consciência das implicações das eleições e das decisões dos dirigentes no rumo do nosso SLB. Por isso, não posso falar de Fernando Martins, porque foi um presidente do qual não tenho qualquer recordação.

      Obrigado pelo esclarecimento, mas eu aprendi o que era ser benfiquista com Jorge de Brito, o presidente que era capaz de colocar a sua fortuna pessoal em prol do clube... pergunto-me quantos homens hoje seriam capazes de dispor assim da suas fortunas em prol do bem comum da nação benfiquista!

      De João Santos, recordo de muito pouco! Por isso, não pretendo falar também. Por isso, recordando o passado, o ponto do fim do SLB glorioso situa-se com o mandato de Damásio.

      Mas fico sempre feliz por aprender mais sobre a história do Benfica! Um abraço

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  5. Imaginem o que tem sido para um nascido em 1983...
    A glória do título 93/94, tudo o que foi antes disso é uma memória vaga para quem vivia o Benfica à distância. Daí para frente... é triste não ter que puxar pela memória para saber o que houve para festejar.

    Enfim, que comece o campeonato para a malta animar!

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  6. Obrigado Carlos,recordar é viver e como eu vivi esses tempos!!

    Abraço

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  7. Ainda bem que há um benfiquistas que nos faz lembrar os tempos tenebrosos que o SLB viveu muitos parabéns pelos capitulos que tem escrito. Viva o Benfica.

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    1. Os tempos tenebrosos são os do Vale e Azevedo. Esses sim, esses são tenebrosos! Estes de FM, JS e JB foram tempos de dificuldades. Energúmenos houve-os em todos os consulados e em todas as épocas.

      Estes que envolveram Fernando Martins, João Santos e Jorge de Brito são tempos de falat de visão e de erros estratégicos, em que começou a faltar o dinheiro, mas nenhum deles roubou nada, antes pelo contrário, deram muito ao Benfica.

      Agora quem relembrar a história do Benfica deverá fazê-lo com o rigor histórico que o Benfica merece e merecerá sempre.
      Não se poderá em qualquer circunstância induzir as novas gerações em erros que adulteram essa mesma riquíssima História.

      Guerra civil? Como guerra civil?
      Ou há alguém que aqui se lembre das intervenções inflamadas de Jaime Catarino Duarte e outros distintos Benfiquistas nas assembleias gerais muito anteriores a estes consulados?

      O que aconteceu é que a Oposição, desde esses tempos (e quer queiram quer não isso vem do tempo em que Fernando Martins se candidatou pela 4ª vez a presidente do Benfica) foi transformada numa guerrilha cega e bastarda. E é isso que se deve mostrar, como deve ser, às gerações mais novas.

      GRÃO VASCO

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    2. por falar em tempos tenebrosos, deve ser dito em abono da verdade que Manuel Damásio não poderá jamais ficar de fora!!!

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    3. E agora apareco eu,a dizer que tempos tenebrosos sao os que eu pessoalmete vivo hoje em dia e tenho vivido,sim,foi bonito finalmente ver o Benfica numa final europeia,mesmo sendo a uefa,que acho que hoje em dia realisticamente e o que esta mais ao nosso alcance.Mas sinceramente isso nao e propriamente nenhum feito historico,nem sequer glorioso,pois clubes como o braga,espanyol e sporting estiveram la recentemente tambem.

      E depois claro,apannhamos sempre a fava. Podem ladrar a vontade,mas o Chelsea era alem de campeao europeu em titulo, um dos porventura 5 melhores e mais reconhecidos clubes mundiais.O presente assim o diz,a historia nao e para aqui chamada.

      Agora pronto,dizem que o Benfica nao deve nada a ninguem,nao passa checks em branco etc,tudo bem...mas no campo.Passamos vergonhas e desilusoes umas atras das outras,desculpem la estar sempre a tocar na mesma tecla mas estes ultimos 3 anos foram pesadelos autenticos.

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    4. Rui, se achas que os últimos 3 anos foram «pesadelos autênticos»... desculpa-me lá mas não sabes o que é um pesadelo nem que ele te bata à porta de casa.

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  8. off:Vejam o golo de Alan Kardec,esta noite,contra o S Caetano!!!

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  9. "tinha uma reunião no Porto e fiz o caminho tão nervoso que tive de parar na área de serviço de Condeixa para vomitar."

    Parece estranho eu pensar assim, mas ao ler esta frase fez de mim um gajo um bocadinho mais feliz. Afinal há gajos com tanta pancada pelo Benfica como eu.

    Obrigado Carlos!!!

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  10. ... e a guerra civil continua....
    Meu pobre Benfica...... :-(((((((

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  11. Caro Carlos, fui daqueles que quase fui agredido por outros benfiquistas como eu,por estar contra o que estavam a fazer a esse grande HOMEM e presidente nessa A.G..Fomos campeoes com Toni depois de ganhar no campo da lagartada por 5-3 no memoravel jogo do Joao Pinto.A seguir veio o Damasio e o rei artur fizeram a limpeza de balneario dos campeoes Vitor Paneira,Isaias etc e ate o NENO (ainda hoje me pergunto porquê o NENO?) e deu o que deu.Saudacoes benfiquistas

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